Arquitetura e a vastidão da paisagem portuguesa: entrevista com PROMONTORIO

No País dos Arquitectos é um podcast criado por Sara Nunes, responsável também pela produtora de filmes de arquitetura Building Pictures, que tem como objetivo conhecer os profissionais, os projetos e as histórias por trás da arquitetura portuguesa contemporânea de referência. Com pouco mais de 10 milhões de habitantes, Portugal é um país muito instigante em relação a este campo profissional, e sua produção arquitetônica não faz jus à escala populacional ou territorial.

Neste episódio, Sara conversa com o arquiteto Paulo Martins Barata, do atelier PROMONTORIO, sobre o projeto da Casa da Volta, localizada em Grândola, Portugal. Ouça a entrevista e leia a transcrição da conversa, a seguir:

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Reveja, também, as entrevistas já publicadas do podcast No País dos Arquitectos:

Paulo Martins Barata - Olá. Viva! Como está? 

Sara Nunes - O Paulo Martins Barata é um dos sócios do atelier Promontorio. São cinco sócios e aí no escritório colaboram mais de 60 pessoas. Qual é a lição mais importante que aprendeu ao colaborar com tanta gente e que mais-valia pode trazer para a Arquitectura a colaboração? 

PMB - Eu diria que o Promontorio – o outro dia dei uma entrevista a explicar isto mesmo – funciona como uma espécie de Atelier - Escola. Penso que o grande desafio da nossa prática profissional foi o de mantermos sempre um sentido crítico no trabalho que fazemos, evitando desse modo o síndrome dos grandes ateliers em que, após alguns anos de actividade, tornam-se estruturas corporativas sem qualquer interesse. Eu comparo a prática do Promontorio – guardando as distâncias, é claro – a ateliers que eu admiro muito como, por exemplo, os BBPR. A sigla deriva da primeira letra do apelido de cada sócio: Belgiojoso, Banfi, Peressutti e Rogers. Esse atelier também foi composto por quatro sócios e foi fundamental no pós-guerra italiano. Tem aquela famosa Torre Velasca com uma produção incrível ao nível do projecto. Sendo um atelier grande – e pode-se dizer que foi uma estrutura bastante grande – manteve sempre esta lógica do sentido crítico. Ou seja, não caíram no vaivém da produção. E isso é difícil porque manter um atelier grande implica custos muito elevados e uma posição muito profissional. Existe um outro atelier que eu considero igualmente muito interessante, ao nível da experiência, que foi o atelier que o Walter Gropius fundou. Quando foi para os Estados Unidos, Walter Gropius foi professor da Universidade de Harvard na Graduate School of Design. Uma vez aí, fundou um atelier com um grupo de pessoas na esfera da universidade apelidado de TAC – The Architects Collaborative. Foi um processo muito interessante porque o trabalho que ele faz é sempre um trabalho de colaboração. Quando os projectos atingem uma certa dimensão e uma certa escala, o trabalho é quase sempre feito em colaboração. Dou o exemplo do atelier David Chipperfield, que tem 200 arquitectos com 70 ou cem projectos em curso, sendo ele o autor de um dos projectos. Existe também o Herzog & de Meuron que conta, aproximadamente, com dez ou nove sócios. Nesse contexto, é natural que estas estruturas se profissionalizem e se organizem. 

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Digamos que o importante é manter a criatividade e o sentido crítico sobre o trabalho que se desenvolve para se conseguir fugir a essa ratoeira (armadilha) que é a produção sem critério, ou a produção que tem como único fim a obtenção de honorários e o funcionamento de uma máquina.  

SN - Penso que vou partir desse raciocínio em que fala dessa vossa vontade de manter no atelier o sentido crítico. Esta entrevista começou de uma forma atípica mesmo antes de começarmos a gravar, pois mencionava que esta casa – a Casa da Volta – se insere num movimento que o Paulo identifica como metamodernismo. Pode-nos falar um pouco sobre isso e depois queríamos também perceber de que forma é que esta casa, de certa forma, representa esses valores. 

PMB - Não creio que seja, de todo, um movimento. O que eu quero transmitir – tendo em conta a investigação teórico-prático do que me parece ser o que se passa hoje – é que penso que estamos a viver um dos momentos mais interessantes no panorama internacional, desde há muito tempo. A arquitectura estava muito chata, nos últimos 20 anos, e completamente desinteressante porque fechou-se muito depois da loucura do vaudeville pós-modernista. Eu chamo a atenção a um aspecto: eu penso que o pós-modernismo foi um período muito curto na Arquitectura, ao contrário do pós-modernismo na Filosofia. Por exemplo, o Lyotard com ‘A Condição Pós-Moderna’ foi algo que circulou na academia durante 15 anos. A arquitectura pós-modernista não sobreviveu a cinco ou seis anos. Isto, claro, se formos realistas. Depois a seguir veio o desconstrutivismo e a arquitectura paramétrica que estão um pouco na mesma esfera. Mais tarde, entramos naquilo que um crítico do Times (Tom Dyckhoff) denominava The New Seriousness. E aí a arquitectura tornou-se séria. The New Seriousness envolve uma série de autores em torno da tectónica. Aí conseguimos identificar um largo espectro de autores, de arquitectos em torno desta ideia da construção, da massa, de todos estes valores.

SN - Trata-se de uma arquitectura mais técnica. É nesse sentido?

PMB - Não, não é técnica. É uma arquitectura que tem tendência para a abstracção. De repente, tudo se tornou muito previsível. O que se tornou interessante é que, nos últimos cinco ou seis anos, algo aconteceu. Penso que o momento de ruptura deu-se na Bienal de Chicago com a curadoria de Johnston e Mark Lee. Quer dizer não foi com eles em específico, mas houve uma série de autores que contribuíram para que isso acontecesse, mas nem todos os que estiveram presentes aí. 

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Eu diria que esse evento – um pouco como o do pós-modernismo – pode ser associado à Bienal, que envolveu o próprio Portoghesi, em 1990. Penso que aqui é um pouco a mesma coisa. Houve uma ruptura que se sentiu e há novos autores, que rompem completamente com o passado recente e que são muito desafiantes. Nós voltamos a ter o ordenamento na arquitectura. Nós voltamos a ter ironia na arquitectura. Nós não tínhamos ironia na arquitectura. Nos últimos 20 anos, não houve ironia na arquitectura. Não há ironia nenhuma num Zumthor ou num Chipperfield. Aí tudo é honesto, sincero, verdadeiro e tectónico. Tudo é sério. Portanto abre-se um campo de experiências com autores muito diversos, criando-se um novo potencial de expressividade. Mesmo assim, eu não diria que isto é um movimento, mas sim uma sensibilidade. Nesse contexto o que é que a Casa da Volta significa para nós em termos de procura? A Casa da Volta introduz uma série de questões que eu considero interessantes sobre o que é falso e o que é verdadeiro porque nós olhamos para a casa e sabemos objectivamente que a casa não é de pedra. Ela é forrada a pedra, mas ela forra mesmo. Ela forra assumida. Aliás, posso dizer que a qualidade dos pedreiros era muito má. Os pedreiros estavam sempre a mudar. Às vezes, eram contratados durante uma semana, mas a procura era tão grande que acabavam por desaparecer e depois a seguir vinha outro.

SN - Tudo muito precário, não é?

PMB - Exactamente. E depois o que vinha já não sabia e fazia de outra maneira. Perante isso, pensámos: “Se pintarmos isto tudo de branco, tudo resulta”. E foi um pouco essa a ideia. Sabemos que, no fundo, tudo aquilo é absolutamente falso. Ou seja, está nos antípodas como pode ser a Can Lis de Jørn Utzon, que é uma casa também de pedra, mas aí existem blocos maciços cortados, em que se vêem as quinas e percebe-se a estereotomia dos encaixes da pedra. Aqui é exactamente o oposto. É uma casa que é absolutamente falsa na sua génese tectónica e que é visível até nas quinas, mas não se inibe de ser de pedra. Ou seja, de se apresentar como sendo de pedra. Como se a única possibilidade residisse nessa ironia. É irónico, mas ainda assim existe a tal ideia que é sincera. Da mesma maneira, por exemplo, se formos aqui brincar com esta ideia da cimalha ter uma telha que faz o recorte da linha da casa e que causa perplexidade. Há vários autores que usaram isto. Eu falei do Jørn Utzon e não foi por acaso. O Jørn Utzon utiliza este sistema e penso que Gio Ponti também terá utilizado. Acho esse recurso interessante porque, de repente, está-se perante aquilo que parece ser uma aba de um telhado. 

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Ou seja, o arranque de um telhado que não existe porque nós assumimos que a telha não serve para fazer uma cimalha, mas sim é pousada como se a casa fosse um grande elúvio com quatro abas de telhado para dentro, que na verdade não tem. Aquilo é simplesmente uma cimalha. São este tipo de tropes que nos permitem um novo olhar crítico sobre o desenho e sobre o projecto. Para nós são essas questões que se levantam e que podem ser interessantes.

SN - Há um aspecto que mencionou e que eu considero curioso, que tem a ver com essa ideia de que o movimento tenta romper com o passado e com a sinceridade tectónica. Fiquei com a sensação que este projecto – agora que mencionou que a própria fachada é feita de pedra, mas é uma forra apenas, tratando-se de uma construção, de certa forma, falsa – é por um lado um projecto contemporâneo que terminou este ano, mas por outro lado, quando olhamos para ele, temos a sensação que já estava ali há mais tempo. Não sei se isso foi uma das vossas intenções, ou partiu também da investigação que fizeram da construção local e dos valores locais do Alentejo. Fale-nos um pouco sobre isso, Paulo. 

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PMB - Há uma lógica tipológica das chamadas alcáçovas. Há uma presença muito forte na paisagem do Alentejo em que os montes são, sobretudo, construções defensivas, tendo em conta a vastidão da paisagem que fica exposta aos roubos e assaltos. Portanto essas alcáçovas assumem um carácter de fortaleza. 

SN - A paisagem é tão agreste que a própria casa tem de ser uma fortaleza. É isso?

PMB - Sim. Nós vemos essa presença no Alentejo. Os montes são todos virados para dentro. Normalmente são murados. A própria construção da estrutura virou-se para dentro porque tinha máquinas que precisavam de ser recolhidas à noite e tinham de ficar fechadas. Há, portanto, uma lógica de estrutura murada na paisagem que é muito bonita e que faz parte da tipologia de ocupação alentejana. Daí surgiu essa ideia de fazermos nesse local, que apresenta uma certa vastidão, uma casa para uma família em que as pessoas, no fundo, ficam isoladas no campo. São quase 15 minutos de carro até o asfalto, numa picada de terra. Como a casa está muito isolada, esta ideia da alcáçova pareceu-nos interessante, remetendo-nos para um espaço de abrigo. Depois existe um grande pátio dentro da casa. A ideia nasceu a partir desse ponto. 

Há depois condições um pouco absurdas em que, por questões regulamentares relacionadas com o PDM e com os afastamentos a que obrigava, cada terreno tinha de ter um afastamento de 50 metros por causa dos bombeiros ou por causa dos incêndios. Portanto nós ficámos constrangidos exactamente naquele sítio. O terreno tem sete hectares, mas o sítio onde se podia construir, efectivamente, era um sítio muito limitado. Até do ponto de vista do espírito do lugar este aspecto era estranho porque com todos os constrangimentos sabíamos que o lugar era aquele. Pareceu-nos estranho porque a casa está numa linha de festo, mas ao mesmo tempo pareceu-nos interessante essa proposta que cria este pátio e este ponto na paisagem. Depois também é interessante porque, como o pátio está a uma certa altura, dos lados criam-se outras perspectivas interessantes. Afunda-se em certas partes e noutras partes deixa-se revelar. É um pouco o que acontece também com esses muros e esses montes na paisagem.  

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SN - Estava a dizer, arquitecto Paulo, que o terreno tem sete hectares. Para as pessoas que não estão ainda a visualizar o projecto possam ter uma ideia de quão pequeno é este projecto face aos sete hectares, estamos a falar de quantos m2 de construção? 

PMB - A casa tem 459,9 m2. Está mesmo no limite do que era possível construir. O terreno de sete hectares tem 70 mil m2. Atenção, isto não é considerado grande no Alentejo. Não é nada de especial, mas também torna-se irrelevante porque não tem propriamente muros à volta. Perde-se na paisagem. No fundo tem sete hectares, mas estão dois mil hectares à volta. O que é relevante não é tanto a propriedade em si, que é apenas um destaque ilustrativo, mas o seu posicionamento na paisagem. 

SN - Para quem não está a ver imagens do projecto, desafiava-o a fazermos um percurso sobre a casa como se estivéssemos no interior. 

PMB - A casa tem esta perplexidade – no fundo, trata-se do aspecto curioso – apresenta-se como quase cega de três lados. É cega a norte, a sul e a nascente. Quando se está a nascente, tem-se um muro com 30 metros, que é a própria casa. Aí existe apenas o rebordo de uma porta e na esquina há uma porta de garagem em duas folhas, que se abrem na própria esquina. A própria esquina desmaterializa-se e fica só uma viga, que é a porta da garagem de entrada no pátio. Depois entra-se na casa e a casa, no fundo, são volumes encostados a esse...

SN - A esse muro.

PMB - A esse muro, a esse quadrado. Nesse quadrado há vários volumes. Aliás, existem três volumes (para ser mais preciso), que se encostam. As janelas dão para o pátio. Todas as janelas dos quartos estão viradas para o pátio. Nós entramos e, dentro da casa, percorre-se o pátio que tem uma grande árvore (uma azinheira muito bonita). Ela foi escorada com uma estrutura metálica para não cair, pois se caísse partia a casa ao meio. É mesmo gigantesca. Portanto, a azinheira está escorada e moribunda. Não está ainda morta, mas escultoricamente é uma estrutura maravilhosa. E ela cria isto, em torno, do pátio. Cria uma sombra também. Depois entramos, finalmente, na casa. No interior, existe uma porta que dá acesso ao hall de entrada, mas que na verdade não funciona porque estas casas constroem muito uma relação com o exterior imediata. Existe também um sistema de janelas e de portas que dão para o pátio quer dos quartos, quer das salas. Finalmente vê-se uma grande janela e essa já contém uma cortina de vidro (com 12 metros), que faz uma grande parte da fachada poente. O poente é muito interessante no Alentejo. A janela fica exposta e daí vê-se a piscina, que é um tanque que está encastrado na rocha e que tem um formato semelhante ao de uma bigorna. A água cai dessa piscina de forma informal. As pessoas não se apercebem. Ela cai na gravilha, mas, na verdade, depois ela desaparece para uma calha e retorna à piscina. Eu diria que funciona como uma taça com água a cair permanentemente. Portanto cria-se um momento de frescura nesse contexto da casa. E estava a referir que, com essa janela panorâmica, a casa está toda virada para essa vista expansiva e essa vista poente. Basicamente, é esse o tema da casa. Do ponto de vista construtivo, há ali uns elementos engraçados. Voltamos às tais tropes

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SN - Sim.

PMB - A casa não tem uma laje de betão. Trata-se de uma estrutura de vigas de madeira lameladas pintadas. Houve aqui uma preocupação com custos. A casa teve custos relativamente baixos. Hoje em dia a sua construção seria muito dispendiosa, mas na altura conseguiu-se um valor razoável. Tem este tema que é (novamente aqui a brincadeira) a ironia. É uma casa de cobertura plana, mas com vigas de madeira sobre essas paredes de tijolo com pilares de betão ocultos na parede. Aspectos muito simples. São os típicos acabamentos que hoje a indústria nos permite fazer como as paredes em pladur, as portas pivotantes e os pavimentos com betonilha afagada. É mais ou menos este o sistema. A cobertura é uma cobertura em gravilha branca (da cor da telha e das paredes). Fica esta espécie de grande rectângulo branco pousado numa terra encarniçada. É esta a síntese da casa. 

SN - Pergunto-lhe agora quais foram os principais desafios construtivos e de desenvolvimento do projecto. Queríamos também perceber se a pandemia, de alguma forma, teve um peso no desenvolvimento do projecto.  

PMB - Não teve nenhum. O cliente já estava a viver na casa quando a pandemia surgiu, portanto a casa é anterior à pandemia. Não houve qualquer relação. Agora se falarmos do Promontorio, se me perguntar como estamos a trabalhar, em termos de pandemia com as equipas, eu menciono dois aspectos. O primeiro é: a arquitectura – com equipas muito habituadas e com grande sintonia entre colaboradores – é possível produzi-la em teletrabalho. Agora se me perguntar se acho que é sustentável, ao longo de um certo período, eu respondo que não. E se me questionar se é possível treinar jovens arquitectos ou colaboradores novos, também respondo que não porque é absolutamente necessário o convívio diário entre equipas. Portanto como situação de recurso nós conseguimos funcionar bem. Agora que penso nisso é engraçado porque ainda ficamos com uns resquícios disso. Por exemplo, temos uma colaboradora que está a viver na Holanda, outra que mora no Egipto e existem também pessoas a trabalhar em casa. Ficamos ainda com algumas pessoas assim. É possível, mas por um lado não é desejável e não é uma solução duradoura porque para jovens estagiários ou para jovens colaboradores é muito difícil terem oportunidade.

SN - De aprender, não é?

PMB - De aprender, sim. É isso mesmo. 

SN - Paulo, o que lhe ensinou este projecto sobre a Arquitectura? 

PMB - Uma das coisas que este projecto me ensinou é que eu adoro fazer casas. 

SN (risos)

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PMB - (risos) Um atelier da nossa dimensão tem alguma dificuldade em fazer casas. Importa referir que este trabalho foi feito em colaboração com o arquitecto João Cravo, que é um jovem arquitecto fantástico. Também muito do desenho e das ideias foram dele. Foi uma co-autoria. Diria que para nós, Promontorio, esta ideia de fazer casas é uma coisa fascinante. É muito difícil nós conseguirmos – eu não diria nós conseguirmos ter lucro a fazer uma casa, mas – não ter prejuízo. 

O volume de pormenorização que uma casa implica, no fundo – com pesquisa, desenho, entre outros detalhes – é o mesmo que, se calhar, um edifício médio tem. Não é muito diferente no que toca ao volume de trabalho e de esforço. Por vezes até é o mesmo e os honorários são muito baixos, como sabe, porque há um limite a partir do qual não é possível os clientes pagarem mais. Portanto, fazer casas para um atelier de dimensão média (como o nosso) é difícil, mas é um prazer enorme obviamente. Se me perguntar o que é que eu aprendi neste projecto, respondo-lhe que adorei fazer a casa e pensar a casa. É uma oportunidade por duas razões. Muitas vezes, as pessoas olham para a dimensão do atelier e pensam: “Não vou encomendar ao Promontorio uma casa porque vai ser muito caro”; por outro lado consideram: “Eles não devem ligar nenhuma porque, para o atelier, é um projecto, que não interessa nada (por se tratar de um projecto pequeno)”. Ambos os pensamentos estão falsos, mas a verdade é que as oportunidades de fazer casas connosco têm escasseado. Não nos pedem para fazer uma casa, pedem-nos para fazer 80 e isso é terrível. É mais interessante a possibilidade de trabalhar o tema da casa, que é o tema universal do arquitecto. Se me perguntar o que é que eu aprendi? Foi isso. Aprendi o gosto de fazer casas. Voltei a ter o gosto de fazer casas.

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Cortesia de PROMONTORIO + João Cravo

SN - Paulo muito obrigada pela sua partilha e também por nos fazer pensar sobre o actual panorama da arquitectura. Muito obrigada por esta conversa. 

PMB - Foi um prazer. Igualmente. Obrigado. 

Nota do editor: A transcrição da entrevista foi disponibilizada por Sara Nunes e segue o antigo acordo ortográfico de Portugal.

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Sobre este autor
Cita: Romullo Baratto. "Arquitetura e a vastidão da paisagem portuguesa: entrevista com PROMONTORIO" 04 Dez 2021. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/971875/arquitetura-e-a-vastidao-da-paisagem-portuguesa-entrevista-com-promontorio> ISSN 0719-8906

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